Tanto a pandemia como a intolerância no cenário político brasileiro colocaram o “ser humano no limite”. Essa é a opinião da psicóloga Vanessa Cardoso, ao comentar as mortes em Santa Catarina registradas no último fim de semana.
De sexta-feira (17) à madrugada desta segunda (20), foram registradas 12 mortes em acidentes em rodovias, além de 11 homicídios e tentativas de homicídio.
Segundo os relatórios divulgados pela Polícia Militar (PM), sete entre os 11 homicídios e tentativas envolveram armas de fogo. A psicóloga afirma que múltiplos fatores podem ser considerados para analisar a violência no país, mas há uma relação direta no aumento expressivo do uso de drogas e álcool.
Aliado a isso, “a política se transformou em um espaço de não-tolerância à diferença, o não-respeito à diferença do pensamento do outro. Independente do lado, direita ou esquerda. Não há um espaço de entender e dialogar a diferença, ‘aquilo que eu não entendo, eu destruo’”, assinala.
Após 1 ano e meio em uma crise sanitária, a psicóloga ponta que o ser humano vive um esgotamento. “Há todo um adoecimento psíquico de não olhar para as suas questões.”
Ela reforça a necessidade de ampliar os serviços de saúde mental gratuitos, ainda escassos no Estado e na Capital. “Tem que trabalhar em cima de um ato consumado ao invés de trabalhar nas prevenções, cuidados com as emoções, com a saúde mental, a agressividade.”
Em função disso, “as pessoas acabam sucumbindo a esse tipo de ação, violenta, extrema, além de não existir um reconhecimento de ‘quem eu sou’ e de ‘quem é o outro’ e colocando as emoções no limite’”, reitera.
Mortes em rodovias de SC
Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), de sexta (17) a domingo (19) foram registradas em Santa Catarina foram 48 acidentes, nos quais 46 pessoas ficaram feridas e 7 pessoas morreram, números considerados acima do normal.
O número de vítimas em rodovias federais costuma ser de 1,2 morte por dia. Nos fins de semana, o número chega a 1,5 morte por dia. Assim, o número de mortes quase dobrou e a PRF afirma que não sabe explicar o motivo.
O fim de semana iniciou a Semana Nacional do Trânsito, de 18 a 25 de setembro, que visa conscientizar motoristas e pedestres sobre os cuidados no trânsito.
Segundo Cardoso, as mortes no trânsito estão bastante ligadas à depressão e à saúde mental, e a pandemia pode maximizar, seja pela perda de pessoas por Covid-19 e até mesmo o desemprego.
É o que a psicóloga chama de “suicídios indiretos”, por exemplo, “um suicídio indireto é beber e dirigir. Então, desatenção ao trânsito, direção violenta, é algo que foi provocado indiretamente”, explica.
“O brasileiro é muito emocional, há pouco uso da razão. Então em situações estressantes, ele se coloca no limite. Aquela agressividade que estava latente antes mesmo da pandemia passa a vir em função disso”, finaliza.
Confira os acidentes com mortes nas rodovias catarinenses:
Sábado (19)
- Em uma motocicleta, um casal morreu após ser atropelado por um caminhão no km 167 da BR-101, em Itapema;
- Um pedestre morreu atropelado por um carro no km 139,8 da BR-470, em Rio do Sul;
- Um motociclista acertou um objeto estático e morreu no km 35,3 da BR-101, em Joinville;
- Após bater de frente com um carro no km 543 da BR-282, um homem morreu em Chapecó;
- Uma motociclista morreu após bater de frente com um carro no km 609 da BR-282 em Maravilha;
- Um homem, de 56 anos, morreu após bater de frente com um ônibus no km 1,200 da SC-A101C, em Balneário Piçarras;
- Um adolescente de 17 anos morreu em um acidente no km 141,350 da SC-283 em São Carlos.
Domingo (19)
- Um homem morreu após capotar o carro no km 564,0 da BR-282, em Nova Erechim;
- Uma motociclista bateu em um caminhão no km 29,650 da SC-112, em Rio Negrinho;
- Um homem de 57 anos morreu perdeu o controle do carro, saiu da pista e capotou no km 35 da SC-447, em Meleiro.
Segunda (20)
- Um motociclista morreu na SC-406, na Lagoa do Peri, em Florianópolis, durante a madrugada.
Fonte: ND+
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