De vila de pescadores a cidade com vocação turística. Essa, normalmente, é a linha do tempo que se traça para determinar a evolução histórica de Porto Belo — que agora começa a construir um novo capítulo, atrelado à expansão da construção civil. Um fator essencial, porém, costuma ficar de fora desse esquema: a raiz rural do município. Muito antes de se consolidar como atividade econômica viável, a pesca era suplantada pela lavoura como principal meio de vida do portobelense, realidade que ainda permanece em localidades mais afastadas da orla e cuja importância cultural e histórica um projeto do Legislativo pretende recuperar.
A iniciativa surgiu nos gabinetes de dois emedebistas: Jonas Raulino e Diogo Santos. Antes de submeterem o projeto de lei ao plenário, os parlamentares fizeram uma consulta prévia, no mês de abril, com alguns setores da municipalidade, como a Secretaria da Agricultura e as fundações de Turismo, de Cultura e de Esportes, para avaliar a viabilidade de se instituir um roteiro turístico pelos bairros rurais do município. Obtido o sinal verde desses agentes públicos, que acrescentaram apontamentos ao plano original, Jonas e Diogo apresentaram aos pares o PL 14/2021, propondo a criação do Caminho dos Sertões. A matéria, que ingressou na secretaria da Câmara no início de maio e seguiu o trâmite de comissões e pareceres, entrou na pauta de votação na semana passada. Nesta segunda (14), foi aprovada em segundo turno. Agora, segue para apreciação do Executivo.
O objetivo do projeto é fomentar a atividade turística em localidades como os sertões de Santa Luzia e do Valongo, comunidades mais afastadas do centro administrativo e que passaram a ter um olhar mais atento do poder público a partir da emancipação de Bombinhas, em 1992. Também integra o escopo do projeto o Alto Perequê, que, assim como as duas comunidades do outro lado da BR-101, caracteriza-se por paisagens bucólicas, fazendas e atividades ligadas à terra. Entre os atrativos que esses recantos reservam — e o projeto pretende transformar em roteiro — estão o Alambique do Pedro Alemão, no Alto Perequê, a igreja de Nossa Senhora Aparecida (segunda mais antiga de Porto Belo), o Horto Municipal, ambos no Sertão de Santa Luzia, e o sítio Flora Bioativas, que explora a chamada alimentação nutracêutica no Valongo — bairro em si repleto de significado histórico: desde dezembro de 2004 é reconhecido pela Fundação Cultural Palmares (FCP) como comunidade remanescente de quilombo.
Entre as modalidades de fruição que os autores almejam estimular com o projeto estão o ciclismo (verdadeira febre em toda a região), as caminhadas em trilha ecológica, a apreciação da gastronomia baseada em produtos coletados nas propriedades locais e a exibição de trabalhos artesanais. De acordo com Diogo Santos, todos esses aspectos estão perfeitamente alinhados à paisagem dos “sertões” e podem configurar uma alternativa econômica para as famílias daquelas regiões, além de oferecer alternativas aos visitantes de Porto Belo, bem como abrir caminho para desenvolver o turismo na baixa temporada: “A ideia é incentivar e colocar Porto Belo na rota do turismo rural, e também apresentar outras riquezas do nosso município”, explica.
Tanto ele quanto Jonas entendem que a iniciativa é de médio a longo prazo (um primeiro estágio implica mapear locais de interesse e identificar pessoas e/ou empresas dispostas a aderir ao roteiro). Mesmo assim, Jonas, que tem se envolvido em outras questões relacionadas aos sertões de Santa Luzia e Valongo (como a resolução do acesso aos dois bairros via BR-101, hoje feito de maneira precária — e perigosa), acredita que esse projeto pode dar bons frutos: “Ele contempla a agricultura, o turismo, a cultura, o esporte, a comida da nossa região. É um projeto de suma importância”.
“É uma forma de divulgar a nossa cidade e fomentar também a cultura local”, entende Cristiani de Jesus, presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC). Ela prevê o envolvimento não apenas dos visitantes, mas da própria comunidade, nas atividades a serem desenvolvidas em torno do roteiro. “Iremos montar um calendário para, uma vez por mês, estar levando todo o artesanato, a cultura local, esportiva, para estar junto à comunidade, juntar-se aos elementos culturais e aos equipamentos que já existem nesses bairros. Será um projeto de sucesso para nossa cidade”, estima.
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